quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Fuga para o Egipto (está n'A Parede)

Este desenho/colagem/pintura mostra a Sagrada Família a preparar-se para dar ao slide em direcção ao Egipto, fugindo à sanha assassina do velho Herodes, com o qual não convém que brinques senão já sabes que te lixas bem lixado. 

Este é um tema religioso muito representado e que, por vezes, também eu represento quando não sei o que hei-de representar (coisa que me acontece com muita frequência). "Então, se não sabes o que representar, porque fazes tu estas coisas?" poderá alguém perguntar. Ora aí está uma pergunta embaraçosa, à qual não me apetece responder.

Mudando subtilmente de assunto, acrescento que, nos dias que correm, fugir para o Egipto não é lá grande ideia. Será mais avisado fugir do Egipto, não para. As razões são várias e qualquer cidadão exemplar poderá enunciar uma boa mão-cheia delas sem matar muitos neurónios.

Não me quero despedir sem fazer notar que o Menino Jesus tem, aqui, cabeça de pistola automática e fita o observador com um olhar ciclópico e inquietante de tão vazio. A Virgem parece ter sido apanhada num instantâneo fotográfico e o São José está, como de costume, distraído com o burro (que por acaso até é um cavalo mas, para o bacano do José, tanto se lhe dá como se lhe fica).

Cidadão Silvares

Este texto não respeita o Acordo Ortográfico (nem o seu autor)

2 comentários:

the dear Zé disse...

a santíssima trindade com(o) arma de fogo...

pintura hiper-realista

Luís, cidadão disse...

E olham para nós, cada um à sua maneira, como se tivéssemos a culpa do Herodes. Nunca tinha pensado no Cristo (Cristo, não a religião) com um olhar tão violento, antes pelo contrário, sempre tinha visto a religião a lidar mal com a bonomia e pacifismo da atitude do mestre.

Lá por trás é a mão de deus ou alguma estrela iluminadora do caminho?

De resto são uma família harmonicamente disfuncional como as outras, física e psicologicamente. Os corpos não têm contorno, desfazem-se no preto. Como de costume a Maria sofre e o José aceita toda a confusão da vida sem perceber o que lhe acontece. Vai cansado mas vai andando, resignado.

Estás cada vez mais próximo do negro definitivo, com uns salpicos de branco, que são os resquícios dos corpos que desapareceram.