sábado, 4 de fevereiro de 2012

O imperador tirano e o rei peida gadocha,


Era uma vez um imperador chamado FMI que, em certo dia, ouviu os seus vassalos batendo-lhe à porta. Estes vinham aflitos porque tinham desbaratado os seus dinheiros em festanças, em palácios e caminhos, em estádios, fundações e noutras coisas, esquecendo-se de trabalhar a economia. Vinham porque já lhes faltava o dinheiro para a vida das cortes e porque o povo empobrecia e começava a murmurar uma raiva que se podia tornar ameaçadora. Queriam ajuda!

O imperador deixou-os entrar, olhou para eles sarcástico e disse em poucas palavras: "Pois, agora querem que vos empreste dinheiro, estais à rasca. Como fostes bons vassalos e deixastes os banqueiros em paz, eu empresto-vos o dinheiro. Mas tereis de pagar as vossas dívidas como eu ordenar, seguindo as minhas ordens, sem falha. Para não se esquecerem que sou eu que mando e que o que falo é sério, vou mandar os meus ministros a cada um dos vossos reinos para deixar as minhas ordens por escrito. Por cada viagem pagar-me-eis 200 ou 300 milhões de euros, porque não ajudo de borla e isto não se discute."

Um dos vassalos do imperador, que se chamava Coelho, conhecia o seu reino de olhar apenas pelas janelas dos palácios e das carruagens, porque durante toda a sua vida apenas vivera nos diversos palácios da família, onde fora muito mimado. Nunca tivera, como nobre que é, de fazer algo na vida a não ser frequentar os salões, onde se falava do reino como se fosse uma história de encantar, porque as coisas do reino eram apenas nomes. Para ele não tinham existência real.

Ora acontece que o dito nobre Coelho chegou a rei na altura em que foi necessário falar com o imperador FMI. Para provar que era, de facto, capaz de ser rei, ouviu assustado as palavras do imperador e logo decidiu cumpri-las muito obedientemente. Como era preciso pagar, aumentou os impostos, reduziu os ordenados, tirou o emprego às pessoas, fechou escolas e hospitais, e outras coisas assim. Tornou-se muito avarento e, assim que lhe cheirava a algum dinheiro, mandava os cobradores rapiná-lo, cegamente, sem pensar se devia ou não. Entretanto tentava convencer o reino que andava triste por roubar os rendimentos do povo e anunciava que era por pouco tempo. Mas, à socapa, distribuía parte desse dinheiro pelos amigos, para eles gostarem mais dele.

Até que um dia o Imperador se lembrou de olhar para o reino do rei Coelho e ficou pensativo, com a mão coçando o queixo. Concluiu que o rei Coelho era um vassalo do peito, mas o reino ainda estava pior. Verificou que o povo comprava o menos possível porque estava bem mais pobre, até porque havia demasiados desempregados e não havia medidas de jeito para o crescimento económico, só havia impostos. Assim, qualquer dia não haveria dinheiro, não se podia pagar a dívida e o país apagava-se. Isto devia-se ao facto do rei Coelho e seus ministros, amigos de brincadeiras, entenderem o seu reino como um jogo, não percebendo grande coisa das leis da governação. Queriam pagar a dívida e ganhar as boas graças do imperador, de modo a manterem os seus palácios, carruagens e essas coisas, continuando a mandar.

Não se sabe como a história termina, porque falta escrever o epílogo, mas o povo resmungava cada vez mais e o rei Coelho fingia que não percebia. Com isto, o imperador FMI revelou uma ligeira ruga na testa.

A crise, contada às crianças.


Fábula inspirada no relatório do FMI, publicado esta semana, que dava conta que a política governamental é ruinosa, devido à quebra da procura interna e do consumo das famílias, ao demasiado elevado índice de desemprego e ao facto de não existirem medidas de estruturação e relançamento económico. O relatório previa a renegociação da dívida do estado. 


Pergunto eu, que não percebo grande coisa de economia: logo que as medidas nos foram impostas, não se tornou evidente que esta situação iria ocorrer? Posso concluir que o governo é incompetente, que os seus ministros são mangas de alpaca do FMI sem visão e sem perspetivas de algum futuro decente para a população portuguesa? Como é possível que se aceite um governo que não pensa nas consequências das suas medidas a curto, médio e longo prazo? A referência à renegociação da dívida não é irónica?


Luís, cidadão

4 comentários:

Silvares disse...

Vejamos a coisa pelo lado positivo; se as criancinhas não quiserem comer a sopa já se pode ameaçá-las com o FMI.

the dear Zé disse...

a minha avó contava-me uma história assim parecida, só que em vez de um coelho tinha um ogre que, curiosamente, era menos estúpido...

Silvares disse...

Era menos estúpido mas não era primeiro-ministro (não sei se isto abona a favor do ogre se do coelho).

Luís, cidadão disse...

Pá, também não sei dizer se o ogre sai diminuído deste confronto. Como esta coisa escorre, acho mesmo que, mais dia menos dia, nem os ogres se safam. Mesmo que desamparem para boé, boé longe.