domingo, 29 de janeiro de 2012

Cavaco, o Óbvio

“Não foi obviamente meu propósito eximir-me aos sacrifícios que os portugueses estão a fazer nos dias de hoje, tendo mesmo insistido que o meu caso pessoal não estava em questão” escreveu o Presidente da República numa nota enviada à agência Lusa tentando explicar por escrito aquilo que não conseguiu explicar oralmente. O Presidente tem, obviamente, dificuldades de expressão, sempre teve. Seja na expressão oral ou na expressão escrita, Cavaco Silva nunca deu provas de ter sido um bom aluno, revelando desde sempre evidentes limitações nestas competências específicas. Para o constatar bastará fazer um pequeno exercício de memória e recordar todas as situações em que, após uma declaração de Cavaco, os analistas espremeram os neurónios na tentativa de compreender a quem se dirigiam certas palavras ou possíveis insinuações, normalmente interpretadas como recados. A verdade é que sempre foi complicado entender o que diz o actual Presidente da República Portuguesa. Daí que, quando Cavaco se afasta das constatações mais óbvias e evidentes, lance a confusão entre a populaça. Como é possível que este homem venha a desempenhar os altos cargos nos destinos da nação que lhe têm sido entregues em mãos através dos processos normais da Democracia? Sim, só por caridade podemos esquecer que Cavaco é um dos governantes com maior influência no caminho trilhado por Portugal desde a integração europeia até ao presente passo anterior à queda no abismo.
Pessoalmente, nunca compreendi o que vêem os portugueses de especial neste cidadão tão vulgar quanto pouco eloquente. Vemo-nos a nós próprios? Os governantes eleitos são um reflexo nítido de quem os elege. Talvez por isso Cavaco pretenda agora convencer-nos que “a sua intenção foi de ilustrar, com o seu próprio exemplo, que acompanha a situação dos portugueses que atravessam dificuldades.” Temos o que merecemos.
Convenhamos que aquele primeiro-ministro que não lia jornais, nunca se enganava, raramente tinha dúvidas e governou de forma tão desastrada, pouco mais poderia ser do que isto que, agora, se revela claro aos olhos de toda a gente. Ele é Cavaco, o Óbvio.

Cidadão Silvares


 Carta publicada no jornal Público

7 comentários:

Cidadão exemplarmente crítico disse...

Seguindo esse raciocínio, dever-se-ia meditar em quem andamos a eleger nas sucessivas eleições. E não me refiro apenas às presidenciais, incluo as outras todas: legislativas, autárquicas, sindicais, profissionais, todas aquelas em que, quem é eleito adquire algum poder efetivo de decisão, adquirindo com isso uma posição privilegiada.

Se calhar vamos concluir que se tem eleito gente, que não conhecemos de lado nenhum e que verificamos ao longo do tempo não ter nenhumas competências especiais que as torne indicadas para o cargo. E, para além disso, uma parte significativa dessa gente não tem nenhum ideal de serviço público, mas antes o ideal de utilizar o cargo para se safar bem na vida, confiante que está acima duma crítica pública penalizadora. Uma espécie de aristocracia por direito divino, da república.

Mas andou-se, e anda-se, a alimentar a reprodução duma casta dirigente vinda dos partidos instalados no parlamento (ou a eles ligada, nomeadamente pelo compadrio económico), que se habituou a gerir os fundos públicos caprichosamente sem ser responsabilizada política e judicialmente. E que passeia o seu charme minúsculo sem vergonha do ridículo.

É o sistema de representação e de funcionamento democrático que está em causa. Mas a honestidade dos dirigentes fica muito aquém dos valores éticos. O sr Cavaco continua, talvez um pouco incomodado, a "justificar" um lapso grave no seu pensamento político. Não vai mudar a perspetiva nem o ponto de vista

Dito de outro modo: eles querem lá saber, têm o deles garantido agora e depois, a gente que se amanhe.

the dear Zé disse...

o cidadão Silva é conhecido pelos seus tabus que são assim uns silêncios prolongados sobre uma coisa qualquer, e os políticos e jornalista ficam embevecidos e debitam tiradas brilhantes sobre esse extraordinário não acontecimento, o que a mim me parece é os silêncios do homem se resumem ao facto de não ter nada para dizer mesmo, aquilo é um vazio absoluto e Óbvio mas que muita gente insiste em não querer ver.

por outro lado, o cavaquismo, com ou sem o Cavaco, é um grupo de senhores que se têm governado muito bem à custa do orçamento i.e. de todos nós e que agora começa a espernear com receio que o ministro lhes reduza os proventos... quem havia de dizer hem??!!...

Silvares disse...

Resumindo: uma corja de cidadãos mais ou menos exemplares, é o que "eles" são.

Cidadão exemplarmente crítico disse...

São exemplares, sim e também são cidadãos, mas não são Cidadãos Exemplares. São como aqueles jogadores de futebol que, não tendo treinado em condições ou não sendo muito dotados, puxam as camisolas aos adversários, dão-lhes cotoveladas, partem-lhes as pernas, atrapalham os colegas, fingem as faltas, justificando a sua inépcia, em agitação e com ar ofendido, com as falhas dos árbitros e a malandrice da equipa contrária. A atitude é a mesma, só que uns pouco foram à escola e basta mudar de canal, ou deixar de entrar nos estádios, para não os aturarmos. Os outros são doutores e não há comando que os desligue.

Zeca disse...

Não batam mais no homenzinho... é Óbvio que o senhor já não joga com o baralho todo, o que, bem vistas as coisas, até dá um jeitaço a quem precisa muito do vazio presidencial para manobrar à vontade.
Por outro lado somos cidadãos exemplares, todos nós, quando o governo de uma nação, neste caso a nossa, aumenta um imposto cego, o IVA, e depois temos as autarquias - que me parecem que não são parte da mesma nação - a cortar a luz publica aos cidadãos porque não consegue suportar os custos com o aumento do dito imposto. Dahh!
Já para não falar de outros aspectos ligados à parceria, forçada, que esses cidadãos tiveram de fazer com a empresa de fornecimento de energia, para depois se vender a alguém, com as mais valias dos investimentos (dos cidadãos), e agora toma lá bolachas, trufa, e a malta engole e nem pia!
O funcionalismo publico serve os cidadãos do estado e não o contrário... ou estarei a delirar???
Se se legisla no sentido de aumentar impostos, que se sabe à partida que vão afectar a vida dos cidadão todos, devem criar-se as regras que isentam a sociedade destes abusos e da ganância de meia-dúzia, sob pena de sermos acusados de estarmos ao serviço dessa causa.
Só não entendo porque é que não se diz BASTA, de uma vez por todas... o que é que é preciso para acordar uma sociedade inteira??? matá-los à fome? à sede? ir-lhes às nalgas e transmitir isso no noticiário? ou em directo, naqueles programinhas da manhã; e fazer um fórum, na rádio, juntamente com vária páginas nas redes sociais da moda, para a malta por lá o GOSTO!!! provavelmente, assim, toda a gente via!

Cidadão exemplarmente crítico disse...

O homem já não joga com o baralho todo e o seu lapso começa a ser um "fait-divers" que esconde o inexorável trabalho do governo em direção ao esfrangalhar da nossa sociedade, para além do seu empobrecimento que toda a gente já entendeu.

O presidente não joga com o baralho todo e o governo só tem meio baralho, também não consegue jogar com ele completo, de modo que não sabe bem a que é que está jogando. O problema é que somos as fichas das apostas...

Jornal da Anselmo disse...

Pergunto: quando, em que época, onde, porventura, alguma vez o cidadão Cavaco jogou com o baralho todo? Quer-me parecer que lhe faltaram sempre uma série de cartas e que ele fez, consecutivamente, as mesmas jogadas desastrosas e nem compreendeu que o baralho tinha muito mais cartas. Enfim, lerpamos!