Porque os objetos expostos surgem distantes, desfocados, empastelados, pouco visíveis, talvez fosse importante apresentá-los com melhor definição, atendendo ao meio digital.
Este quadríptico inclui-se num projeto, desenho meio pintura, iniciado há sete anos e intitulado "...e até Platão tinha um corpo...". Estes desenho construídos sobre folhas de caderno de desenho, apresentados lado a lado em conjuntos de quatro denominam-se "registos de laboratório".
Luís Miranda, ... e até Platão tinha um corpo...
registos de laboratório, 2005/09
Os desenhos são iniciados com café e tinta da china preta (neste caso), incluindo umas gotas de água, materiais portáteis que permitem a sua feitura em qualquer local público onde se beba café, só ou acompanhado e se disponha de tempo desligado das ocupações quotidianas. As formas são definidas pela técnica utilizada para espalhar a tinta café, neste caso a base da chávena, que se fez deslocar livremente pelo papel. O modo e o tempo como se coloca a tinta de cor terrosa, faz surgir manchas, linhas, zonas diferenciadas que são sublinhadas com a tinta negra da caneta. No fim, acentuam-se tonalidades com outras demãos (para o nosso presidente(?), demões) de café. Numa segunda fase a cor pode ser trabalhada com outros materiais, como lápis de cor (portátil também), acrílicos, tintas industriais, pastel e por aí, de maneira apenas pontual (como é o caso) ou mais geral. Será a "lógica" formal ou o sentido que o conjunto me faz, que determina esta segunda fase e a possibilidade de agregação dos desenhos. Nestes "registos de laboratório" os desenhos são feitos completamente em separado e agrupados pelo encontro formal, sem atender à cronologia. Notam-se os pontos de confluência encontrados e simultaneamente as discrepâncias de continuidade. Num "jogo" de simultaneidade espacial e descontinuidade temporal.
Luís Miranda, ... e até Platão tinha um corpo... 2008
Este 2º desenho pretende ilustrar outra característica do projeto. Os suportes variam conforme o que se encontra à mão, desde guardanapos de papel (no caso), toalhetes, jornal e revistas, embalagens várias. É sempre questão do espaço e do tempo da vontade e da disponibilidade. É material barato, se não resultar, deita-se fora. As pequenas dimensões das peças permitem o seu fácil acondicionamento e transporte. Evitam-se os constrangimentos materiais.
Neste caso o desenho foi feito com a colher e as formas surgem pelo movimento da mão e pelo tipo de absorção do papel. A cor foi sobrecarregada com ecolines, acrílico, óleo industrial e pastel, num leque tonal construído a partir das cores originais (o ocre do café e o neutro da tinta da china).
Para quem teve a paciência para ler o texto, combinamos para a próxima falar sobre os aspetos temáticos e simbólicos do projeto. Talvez aqui, talvez em redor duma mesa de café...
Luís, Cidadão
3 comentários:
O Platão tinha um corpo e o Sócrates (o Zé) tinha falta de espírito. As coisas assim equilibram-se. Já o Diógenes parece que era um gajo esquisito, a merecer uma série a ele dedicada (quem sabe?) em tons de lixo e um pouco de vómito (independentemente do que vier no vomitado).
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