Este desenho/colagem/pintura mostra a Sagrada Família a preparar-se para dar ao slide em direcção ao Egipto, fugindo à sanha assassina do velho Herodes, com o qual não convém que brinques senão já sabes que te lixas bem lixado.
Este é um tema religioso muito representado e que, por vezes, também eu represento quando não sei o que hei-de representar (coisa que me acontece com muita frequência). "Então, se não sabes o que representar, porque fazes tu estas coisas?" poderá alguém perguntar. Ora aí está uma pergunta embaraçosa, à qual não me apetece responder.
Mudando subtilmente de assunto, acrescento que, nos dias que correm, fugir para o Egipto não é lá grande ideia. Será mais avisado fugir do Egipto, não para. As razões são várias e qualquer cidadão exemplar poderá enunciar uma boa mão-cheia delas sem matar muitos neurónios.
Não me quero despedir sem fazer notar que o Menino Jesus tem, aqui, cabeça de pistola automática e fita o observador com um olhar ciclópico e inquietante de tão vazio. A Virgem parece ter sido apanhada num instantâneo fotográfico e o São José está, como de costume, distraído com o burro (que por acaso até é um cavalo mas, para o bacano do José, tanto se lhe dá como se lhe fica).
Cidadão Silvares
Este texto não respeita o Acordo Ortográfico (nem o seu autor)
Este texto não respeita o Acordo Ortográfico (nem o seu autor)
2 comentários:
a santíssima trindade com(o) arma de fogo...
pintura hiper-realista
E olham para nós, cada um à sua maneira, como se tivéssemos a culpa do Herodes. Nunca tinha pensado no Cristo (Cristo, não a religião) com um olhar tão violento, antes pelo contrário, sempre tinha visto a religião a lidar mal com a bonomia e pacifismo da atitude do mestre.
Lá por trás é a mão de deus ou alguma estrela iluminadora do caminho?
De resto são uma família harmonicamente disfuncional como as outras, física e psicologicamente. Os corpos não têm contorno, desfazem-se no preto. Como de costume a Maria sofre e o José aceita toda a confusão da vida sem perceber o que lhe acontece. Vai cansado mas vai andando, resignado.
Estás cada vez mais próximo do negro definitivo, com uns salpicos de branco, que são os resquícios dos corpos que desapareceram.
Enviar um comentário