sexta-feira, 7 de junho de 2013

cidadão em exposição

Tanta foi a farra de carnuça no pão que os ilustres cidadãos (para a presidência da república(?), cidadões) se chegaram demasiado à frente tapando as suas ditas obras. E, se não fossem elas, os cidadãos visíveis não teriam razões para se mostrar em público (sim, existe um que se escondeu sempre atrás dum artefacto mecânico).
Porque os objetos expostos surgem distantes, desfocados, empastelados, pouco visíveis, talvez fosse importante apresentá-los com melhor definição, atendendo ao meio digital.

Este quadríptico inclui-se num projeto, desenho meio pintura, iniciado há sete anos e intitulado "...e até Platão tinha um corpo...". Estes desenho construídos sobre folhas de caderno de desenho, apresentados lado a lado em conjuntos de quatro denominam-se "registos de laboratório".
Luís Miranda, ... e até Platão tinha um corpo...
registos de laboratório, 2005/09

Os desenhos são iniciados com café e tinta da china preta (neste caso), incluindo umas gotas de água, materiais portáteis que permitem a sua feitura em qualquer local público onde se beba café, só ou acompanhado e se disponha de tempo desligado das ocupações quotidianas. As formas são definidas pela técnica utilizada para espalhar a tinta café, neste caso a base da chávena, que se fez deslocar livremente pelo papel. O modo e o tempo como se coloca a tinta de cor terrosa, faz surgir manchas, linhas, zonas diferenciadas que são sublinhadas com a tinta negra da caneta. No fim, acentuam-se tonalidades com outras demãos (para o nosso presidente(?), demões) de café.  Numa segunda fase a cor pode ser trabalhada com outros materiais, como lápis de cor (portátil também), acrílicos, tintas industriais, pastel e por aí, de maneira apenas pontual (como é o caso) ou mais geral. Será a "lógica" formal ou o sentido que o conjunto me faz, que determina esta segunda fase e a possibilidade de agregação dos desenhos. Nestes "registos de laboratório" os desenhos são feitos completamente em separado e agrupados pelo encontro formal, sem atender à cronologia. Notam-se os pontos de confluência encontrados e simultaneamente as discrepâncias de continuidade. Num "jogo" de simultaneidade espacial e descontinuidade temporal.

Luís Miranda, ... e até Platão tinha um corpo... 2008

Este 2º desenho pretende ilustrar outra característica do projeto. Os suportes variam conforme o que se encontra à mão, desde guardanapos de papel (no caso), toalhetes, jornal e revistas, embalagens várias. É sempre questão do espaço e do tempo da vontade e da disponibilidade. É material barato, se não resultar, deita-se fora. As pequenas dimensões das peças permitem o seu fácil acondicionamento e transporte. Evitam-se os constrangimentos materiais.
Neste caso o desenho foi feito com a colher e as formas surgem pelo movimento da mão e pelo tipo de absorção do papel. A cor foi sobrecarregada com ecolines, acrílico, óleo industrial e pastel, num leque tonal construído a partir das cores originais (o ocre do café e o neutro da tinta da china).

Para quem teve a paciência para ler o texto, combinamos para a próxima falar sobre os aspetos temáticos e simbólicos do projeto. Talvez aqui, talvez em redor duma mesa de café...

Luís, Cidadão

3 comentários:

Silvares disse...

O Platão tinha um corpo e o Sócrates (o Zé) tinha falta de espírito. As coisas assim equilibram-se. Já o Diógenes parece que era um gajo esquisito, a merecer uma série a ele dedicada (quem sabe?) em tons de lixo e um pouco de vómito (independentemente do que vier no vomitado).

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...
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