domingo, 26 de fevereiro de 2012

o imperador tirano e o rei peida gadocha - 3

a rainha mãe e o vil metal,
ou a transparência e a frontalidade dos políticos



Naquele reino solarengo mas bastante desconjuntado, a rainha mãe decidiu um dia deixar o seu palácio cor de rosa e rumar a norte. Ouvira dizer que havia uns artesãos a fazerem coisas que agradavam a gentes de outros reinos. Achou fora do normal e quis indagar da novidade. Afinal o reino era conhecido por receber as coisas que os outros inventavam e pelo sol que agradava ao turismo. Costumava enviar para fora quase só força de trabalho, jogadores e treinadores de futebol, em troca de submarinos, gestores públicos e outras coisas importantes.

Quando chegou à grande cidade do norte, a rainha mãe reparou num grande número de cronistas reunidos no terreiro. Como gostava de aparecer nas notícias, instruiu assim o cocheiro: "Cocheiro, dirige a carruagem para aquele grupo de cronistas, chicoteia os cavalos para te fazeres ouvir e para a três metros deles. Quero que se note que cheguei, mas que sejam eles a deslocar-se na minha direção. Afinal eu é que sou a rainha mãe!"

E assim aconteceu, rapidamente os cronistas rodearam a rainha mãe esperando as suas palavras. Ele clareou a voz, limpou os restos de baba seca nos cantos da boca e falou:
- "O reino está mal! Há muitos jovens sem trabalho, se calhar desiludidos e prontos a emigrar. Espero que nós sejamos capazes de criar oportunidades para que os jovens encontrem forma de realização no nosso país. Os números do desemprego no 4º trimestre são muito preocupantes. Eu próprio, devo confessar, fiquei um pouco surpreendido com o nível de 14% de desempregados e 35% de desemprego nos jovens. As indústrias criativas são uma boa forma de reforçar o crescimento e combater o desemprego. Foi para apoiar as indústrias criativas que aqui me desloquei."

Um cronista com memória lembrou-se de perguntar: "Rainha mãe, na última vez que cá estivestes não sabíeis lá muito bem quanto iríeis receber de pensão do banco central. Já sabeis agora?"
A rainha mãe piscou os olhos para pensar, lamentando-se por não ser capaz de piscar um de cada vez para ganhar o dobro do tempo e respondeu:
- "Tive oportunidade de esclarecer essa questão na altura. Não vou responder à pergunta para não alimentar polémicas inúteis que não contribuirão para o desenvolvimento do reino..."
- "Mas rainha mãe, sabeis ou não sabeis qual é o montante dessa pensão?"
- "Como deveis compreender, não vou responder a essa questão porque não desejo alimentar falsas polémicas. O desenvolvimento do reino..."
- "Mas esclarecestes essa questão junto do banco?"
- "Não responderei à questão porque não pretendo alimentar polémicas inúteis que não contribuem para diminuir o desemprego..."
- "Esta viajem foi paga pela vossa pensão?"
- "Não respondo a essa questão porque não desejo alimentar falsas polémicas que não contribuem..."
- "E o repasto no caminho, foi pago pelo reino ou com o vosso cartão de crédito?"
- "Não darei essa resposta porque não pretendo alimentar polémicas inúteis que não contri..."
- "Essa roupagem que trazeis vestida, foi comprada a prestações ou pagastes logo?"
- "Não forneço nenhuma resposta a essa questão porque não pretendo alimentar falsas polémi..."
- "O lenço que trazeis ao pescoço, conseguistes comprá-lo ou foi uma oferta?"
- "Não darei qualquer resposta a essa questão porque não pretendo alimentar polémicas inút..."
- "Sabeis onde estais?"
- "Não responderei a essa questão porque não pretendo alimentar polémi..."
- "Qual é o vosso nome?"
- "Não respondo a essa questão porque não preten..."

Neste momento a corte da rainha mãe interpôs-se entre os cronistas e arrastou a eminência para dentro da carruagem que partiu a trote, chiando os rodados, em direção à zona das indústrias criativas, onde foram visitar a feitura dos chapéus do Johnny Depp.

a crise contada às crianças

(a imagem foi tirada da net com a devida autorização por escrito e assinada no notário)


Luís, cidadão

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Cidadania militante



Aqui se apresenta uma sequência de imagens que mostram um grupo de cidadãos militantes da cidadania exemplar enquanto montavam a exposição de Fotografia Panorâmica da autoria de Adelino Chapa (que disparou a máquina sobre estes trabalhadores incansáveis proporcionando-nos estas imagens).

De cima para baixo podemos reconhecer os cidadãos Zé Julião, Rui Silvares e Luís Miranda (o primeiro a 3/4 e os outros de costas, RS é o da careca), o cidadão Ivo com o seu boné e  respectivo sorriso, o cidadão Julião, de novo, em nítido esforço, numa pose digna de Atlas e, mais uma vez, Julião e o da cabeça de monge.

Finalmente as três fotos panorâmicas da baía do Seixal que constituem esta mostra.

A coisa merece uma visita, não só pela exposição mas também pelo bom ambiente e melhores serviços que são prestados aos cidadãos deste país naquele local (quase) idílico.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

cidadão exemplar convida












2ª exposição n’ a parede

Vai ser já amanhã, quarta-feira 22 de Fevereiro, n' a parede do café-bar do Fórum Romeu Correia, em Almada, que vai estar patente mais uma magnífica exposição promovida por este vosso Cidadão Exemplar

Desta vez o convite é para uma brilhante exposição de fotografia panorâmica da autoria do inspirado cidadão Adelino Chapa.

não se esqueçam de aparecer, é que está no memorando da troika

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Os proventos dos agentes do poder

mitos canalhas


Os governantes e os gestores públicos e privados argumentam com muita regularidade nos media que as personagens de topo nas organizações devem ser bem remuneradas, sob pena de não se conseguir dirigentes de qualidade. Porque os indivíduos competentes tenderão a emigrar, ou a não se comprometerem com o setor público e do estado, procurando quem lhes ofereça o valor "justo" pela qualidade do seu trabalho. Já ouvimos dizer publicamente (por um gestor, claro) que os gestores merecem todos os cêntimos que lhes pagam. Juntando isto à gafe dos 1300 euros e da vida miserável do prof Cavaco, mais a afirmação de Passos Coelho que se sente mal pago, às repetidas notícias de gente das direções partidárias que se desdobra por vários conselhos de administração, aos dirigentes públicos que saltam para as chefias de empresas públicas e privadas das áreas em que governavam e à notícia de hoje em que um investigador público inquiria sobre um processo de branqueamento de capitais, acabando por se tornar empregado do grupo que investigava, deparamo-nos com um mundo com uma ética muito duvidosa, quase criminosa.
Ingres, "retrato de Louis-François Bertin", 1832 

Desmintam-me se não tiver razão, mas estas reivindicações corporativas saem de indivíduos sem sentido de estado, sem a perspetiva da causa pública e sem preocupações de integração dos diversos grupos sociais e profissionais num projeto de país. Com nenhum respeito pelos contratos sociais que as suas instituições impuseram aos que não pertencem aos círculos de poder. Porque nestes, os direitos são para se manter, conforme declarações públicas de alguns dos seus representantes. Como tal têm um sentido da responsabilidade reduzido, pouca visão de estado e de futuro. Porque nunca foram verdadeiramente avaliados, confrontados e julgados pelos resultados das suas decisões e atos, sentem-se impunes, com poder discricionário e vaidosamente autoconfiantes. Por isso, num país em que o salário mínimo não chega aos 500 euros, temos dirigentes que ganham mais (em termos absolutos) que pessoas que têm os mesmos cargos e atribuições em países mais ricos, como o caso do governador do Banco de Portugal, face ao congénere americano. 

Defendem-se corporativamente e reproduzem-se em família, num círculo fechado e sem mecanismos de controle (as eleições de 4 em 4 anos, são apenas fumaça, não servem para discutir e avaliar nada de sério).

Quando alguém necessita de um canalizador, pretende um serviço profissional competente. Os pais pretendem que os professores ensinem e formem os filhos, um médico tem de saber e ter à sua disposição os meios e processos de cura, e por aí fora. Num país com projeto, querem-se profissionais competentes. A competência constrói-se permanentemente. Não há razão para apontar apenas para o cimo das empresas e departamentos de estado. Porque, se estes organizam estruturalmente, sem material humano não funcionam. E se o grau de responsabilidade da organização e gestão dos recursos é maior do que o funcionamento, os erros também têm outras consequências mais gravosas. 

Esta autonomeada elite dirigente deu provas da sua capacidade e competência? O atual estado de coisas foi criado pelos referidos canalizadores, professores, médicos e demais trabalhadores? Onde estão os responsáveis pela crise, os que não foram capazes de a prever e foram indolentes em atacá-la? 


Um governo que aplica religiosamente um plano externo do FMI e cuja função é extorquir dinheiro aos cidadãos, revela que competência especial? Segue a via usurária e avarenta mais primária, a mais fácil, não demonstra perspetiva de desenvolvimento (nem económico, quanto mais político/social).

Os dirigentes não merecem, de facto, o dinheiro e as mordomias que recebem.


                                                imagem do filme Oliver Twist, de Roman Polansky 


Luís, cidadão

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

O submarino

O exemplar cidadão Paulo Portas, actual Ministro dos Negócios Estrangeiros e ex-ministro da Defesa, tem andado tão discreto que se diria ter o comportamento de um submarino que se desloca subrepticiamente, mas com valentia, nas águas agitadas da política lusitana (e internacional).

Quando se questionam tantos investimentos descabelados que arruinaram o erário público nacional é tempo de confrontar o cidadão Paulo (o Portas) com o extraordinário investimento por ele engendrado na compra dos ditos paquidermes marítimos.

Ah, onde estão os ditos submarinos? Por onde têm eles navegado? Quais as missões indispensáveis que têm realizado em prol do interesse nacional? Com dirigentes deste calibre a exemplaridade da cidadania não tem preço nem medida.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

11 de fevereiro, gente que não crê na austeridade

Ontem, encontraram-se em Lisboa uns quantos milhares de pessoas, que, parecia, estavam fartinhos desta lenga lenga da crise. Aprende-se na escola que todas as situações problemáticas obrigam a pensar no sentido de se encontrarem soluções novas. Porque as velhas já não conseguem responder aos problemas.
Se as questões são gerais e afetam um país, o país deve ser mobilizado para a solução. Por cá, simplificou-se: o FMI definiu as linhas gerais, o governo concretiza as medidas e o povo deverá cumpri-las silenciosamente.

Quando as pessoas, que acham a liberdade um valor definitivo para a condição humana, se põem a pensar, terminam sempre por se aborrecer. A liberdade dá-se mal com a democracia diminuída.

 Um verdadeiro cidadão exemplar, cínico sarcástico e acutilante. Mas como é humano, equivocou-se. Os ladrões não têm mesmo vergonha.

Lá está, o regime anda por caminhos de democracia virtual. Não se diria melhor!

A net anda a picar o poder, então o poder tem de a regular e censurar. A liberdade de opinião só deve ser possível depois de amaciada. Que coisa é esta de se revelarem as incompetências das autoridades? Ainda se ficava com a ideia de que era gente comum, sem nada de relevante para se poder assumir como elite dirigente, a não ser pertencer a um partido e ter ligações com os centros financeiros.

Será um anúncio do carnaval? Coelho nu e pendurado? Percebe-se a sanha do 1º ministro contra os festejos tradicionais! A ironia reduz a importância, tornando-a risível. Pode lá acontecer uma coisa destas num momento tão sensível para o país?!

Como de costume, a nobreza vira costas ao povo que reclama e afasta-se calmamente. Nem o chamamento da criancinha tornou D. José menos surdo. Saudades da ferocidade do marquês, quem sabe...

Luís, cidadão

sábado, 11 de fevereiro de 2012

o imperador tirano e o rei peida gadocha - o carnaval

Pieter Brueghel, "A luta entre o Carnaval e a Quaresma", óleo s/tela, 1559

Em tempos que já lá vão, num reino muito próximo de nós, o rei Coelho chamou os seus nobres conselheiros para mais uma sessão de trabalho. Estando todos reunidos no salão, mandou fechar as portas para ninguém ouvir nada do que se passava e perguntou: "Vamos lá a ver, que novas me trazeis para aforrarmos mais dinheiro para se pagar a dívida ao imperador?".
É importante dizer que naquele reino já não havia grande coisa por onde se pudesse espremer o povo, a não ser roubar-lhe diretamente a bolsa. O rei, com medo do imperador, tinha-se encarregue de sacar o possível, agora já se preocupava apenas com o impossível e fantasioso. Mas nada disto atrapalhava aquele conjunto de nobres conselheiros cheios de vontade.
Respondeu o nobre Gaspar, com a cara habitual de dores de estômago crónicas: "Já que a aristocracia não ligou àquela excelente ideia da meia hora de trabalho a mais, podíamos tentar outra medida parecida, ainda há algum espaço nos dias do ano". O estrangeirado nobre Pereira esbugalhou os olhinhos piscos e, com uma certeza que o seu duplo queixo não deixava perceber, afirmou perentório: "Temos o carnaval, a 3ª de carnaval, acaba-se com ela e são logo muitas horas!" Caíram-lhe os óculos no entusiasmo de mais uma brilhante conclusão.
O rei pensou, um momento apenas para não ficar com dores de cabeça, assentiu com a mão e falou: "Pois claro, como não nos tínhamos lembrado disso! O carnaval não é feriado obrigatório, o reino tem-se desleixado ao permitir que o povo folgue num dia não autorizado! Afinal o que é o carnaval?!"
Pensando que era uma pergunta, o conselheiro da educação que costumava ver o canal história, disse: "O carnaval é uma festa que vem dos tempos pagãos..."- "Pagãos, quê, comunistas?" interrompeu o rei Coelho - "Não, não, de quando ainda não havia Deus. É uma festa muito antiga, que tinha a ver com a chegada da Primavera e que o cristianismo tentou acabar, mas tinha tanta aceitação junto do povo que a deixou ficar no calendário religioso", acrescentou o conselheiro. E mais disse: "É uma altura do ano em que o povo pode criticar os nobres e o rei, disfarçando-se como no teatro para poder ridicularizar os erros dos poderosos, antes da..."- "Como assim?! Criticar? Ridicularizar?", atalhou o rei Coelho. "Nós não queremos nada disso, acabou! Começam por criticar e depois começam com ideias subversivas. A turba toda junta e na rua é perigosa! O povo deve ficar concentrado no trabalho para encher os cofres do reino. A dívida, tem de se pagar a dívida! Não deve ter nada que o distraia deste desígnio sagrado! O povo não tem querer, nós é que sabemos o que é bom para ele. Por isso é que é povo! Existe para trabalhar e alimentar o reino, não para ter ideias, nem direitos, onde já se viu!?".
Alguém sussurrou a medo:"Mas assim, tão em cima da hora, com os costumes feitos?" - "Claro, em cima da hora é tempo! Quanto aos costumes que os mandem para o lixo. Não tinham nada que perder tempo com coisas que não rendem. Para o ano já sabem que é desperdício e podemos decretar que o tempo gasto em festanças pode ser aproveitado em trabalho útil para o reino!", repreendeu o rei. Ouviu-se de outro lado: "Mas o povo vai aceitar?". "Claro que aceita, um povo com fome e doente aceita tudo e mais, estou farto de ouvir falar do coitadinho do povo. Está-me a cheirar que temos aqui uma cambada de piegas! Por acaso estamos em campanha eleitoral para nos preocuparmos com o povo?" - "Apoiado!", gritou o nobre Pereira,  caindo-lhe os óculos com o entusiasmo.
Toda a gente se calou e o rei retirou-se com o escrivão para ditar a lei carnavalesca. Os nobres retiraram-se  e alguns iam pensando que tinham sido previdentes em comprar antecipadamente bilhetes de avião para o carnaval de Veneza ou do Rio de Janeiro.

                                                        Miró, "O Carnaval de Arlequim", óleo s/tela, 1924/25


A crise contada às crianças
(as imagens retiradas da net têm a reprodução perfeitamente autorizada. Leitores, podeis usá-las nas vossas histórias)


Luís, cidadão



segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Personas n'A Parede


Falamos de mascaras. Do rosto que se coloca sobre o rosto para sermos nós próprios. Os romanos chamavam persona às mascaras do teatro. Per sonare. Expandir a voz.


n'a parede podem-se ver quatro fotografias de uma série designada Persona, as máscaras, que todos temos e que são os rosto que afivelamos para cada ocasião, vocês sabem, os políticos são particularmente bons nisso

cidadão josé

sábado, 4 de fevereiro de 2012

O imperador tirano e o rei peida gadocha,


Era uma vez um imperador chamado FMI que, em certo dia, ouviu os seus vassalos batendo-lhe à porta. Estes vinham aflitos porque tinham desbaratado os seus dinheiros em festanças, em palácios e caminhos, em estádios, fundações e noutras coisas, esquecendo-se de trabalhar a economia. Vinham porque já lhes faltava o dinheiro para a vida das cortes e porque o povo empobrecia e começava a murmurar uma raiva que se podia tornar ameaçadora. Queriam ajuda!

O imperador deixou-os entrar, olhou para eles sarcástico e disse em poucas palavras: "Pois, agora querem que vos empreste dinheiro, estais à rasca. Como fostes bons vassalos e deixastes os banqueiros em paz, eu empresto-vos o dinheiro. Mas tereis de pagar as vossas dívidas como eu ordenar, seguindo as minhas ordens, sem falha. Para não se esquecerem que sou eu que mando e que o que falo é sério, vou mandar os meus ministros a cada um dos vossos reinos para deixar as minhas ordens por escrito. Por cada viagem pagar-me-eis 200 ou 300 milhões de euros, porque não ajudo de borla e isto não se discute."

Um dos vassalos do imperador, que se chamava Coelho, conhecia o seu reino de olhar apenas pelas janelas dos palácios e das carruagens, porque durante toda a sua vida apenas vivera nos diversos palácios da família, onde fora muito mimado. Nunca tivera, como nobre que é, de fazer algo na vida a não ser frequentar os salões, onde se falava do reino como se fosse uma história de encantar, porque as coisas do reino eram apenas nomes. Para ele não tinham existência real.

Ora acontece que o dito nobre Coelho chegou a rei na altura em que foi necessário falar com o imperador FMI. Para provar que era, de facto, capaz de ser rei, ouviu assustado as palavras do imperador e logo decidiu cumpri-las muito obedientemente. Como era preciso pagar, aumentou os impostos, reduziu os ordenados, tirou o emprego às pessoas, fechou escolas e hospitais, e outras coisas assim. Tornou-se muito avarento e, assim que lhe cheirava a algum dinheiro, mandava os cobradores rapiná-lo, cegamente, sem pensar se devia ou não. Entretanto tentava convencer o reino que andava triste por roubar os rendimentos do povo e anunciava que era por pouco tempo. Mas, à socapa, distribuía parte desse dinheiro pelos amigos, para eles gostarem mais dele.

Até que um dia o Imperador se lembrou de olhar para o reino do rei Coelho e ficou pensativo, com a mão coçando o queixo. Concluiu que o rei Coelho era um vassalo do peito, mas o reino ainda estava pior. Verificou que o povo comprava o menos possível porque estava bem mais pobre, até porque havia demasiados desempregados e não havia medidas de jeito para o crescimento económico, só havia impostos. Assim, qualquer dia não haveria dinheiro, não se podia pagar a dívida e o país apagava-se. Isto devia-se ao facto do rei Coelho e seus ministros, amigos de brincadeiras, entenderem o seu reino como um jogo, não percebendo grande coisa das leis da governação. Queriam pagar a dívida e ganhar as boas graças do imperador, de modo a manterem os seus palácios, carruagens e essas coisas, continuando a mandar.

Não se sabe como a história termina, porque falta escrever o epílogo, mas o povo resmungava cada vez mais e o rei Coelho fingia que não percebia. Com isto, o imperador FMI revelou uma ligeira ruga na testa.

A crise, contada às crianças.


Fábula inspirada no relatório do FMI, publicado esta semana, que dava conta que a política governamental é ruinosa, devido à quebra da procura interna e do consumo das famílias, ao demasiado elevado índice de desemprego e ao facto de não existirem medidas de estruturação e relançamento económico. O relatório previa a renegociação da dívida do estado. 


Pergunto eu, que não percebo grande coisa de economia: logo que as medidas nos foram impostas, não se tornou evidente que esta situação iria ocorrer? Posso concluir que o governo é incompetente, que os seus ministros são mangas de alpaca do FMI sem visão e sem perspetivas de algum futuro decente para a população portuguesa? Como é possível que se aceite um governo que não pensa nas consequências das suas medidas a curto, médio e longo prazo? A referência à renegociação da dívida não é irónica?


Luís, cidadão

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Fuga para o Egipto (está n'A Parede)

Este desenho/colagem/pintura mostra a Sagrada Família a preparar-se para dar ao slide em direcção ao Egipto, fugindo à sanha assassina do velho Herodes, com o qual não convém que brinques senão já sabes que te lixas bem lixado. 

Este é um tema religioso muito representado e que, por vezes, também eu represento quando não sei o que hei-de representar (coisa que me acontece com muita frequência). "Então, se não sabes o que representar, porque fazes tu estas coisas?" poderá alguém perguntar. Ora aí está uma pergunta embaraçosa, à qual não me apetece responder.

Mudando subtilmente de assunto, acrescento que, nos dias que correm, fugir para o Egipto não é lá grande ideia. Será mais avisado fugir do Egipto, não para. As razões são várias e qualquer cidadão exemplar poderá enunciar uma boa mão-cheia delas sem matar muitos neurónios.

Não me quero despedir sem fazer notar que o Menino Jesus tem, aqui, cabeça de pistola automática e fita o observador com um olhar ciclópico e inquietante de tão vazio. A Virgem parece ter sido apanhada num instantâneo fotográfico e o São José está, como de costume, distraído com o burro (que por acaso até é um cavalo mas, para o bacano do José, tanto se lhe dá como se lhe fica).

Cidadão Silvares

Este texto não respeita o Acordo Ortográfico (nem o seu autor)